As relações socioculturais e econômicas, entre alguns grupos de pescadores artesanais, não colocam como entes antagônicos trabalho e tempo livre. Do contrário, tais relações celebram aproximações entre saber-fazer pesqueiro, lazer e vida, formando e conformando um todo societário. Inseridos nesse quadro, estão os pescadores artesanais do mar-de-fora da praia de Suape, no município do Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco, distante 50 km de Recife. Este artigo busca desvelar a mencionada moral do trabalho e do tempo livre no fazer cotidiano de pescadores dessa Praia, com base na pesquisa etnográfica e na história de vida de 13 pescadores. No geral, identificou-se que há uma moral do trabalho que se confunde à moral do tempo livre, pois o cerceamento de uma delas representa limites à outra. Assim, para esses homens, definir o que é um ser liberto ou cativo liga-se ao encontro indissociável, em termos práticos e simbólicos, entre as referidas morais, o que é essencial para classificar o fazer-se pescador artesanal em seu sentido pleno fundamentado na desnecessidade do trabalho.
Socio-cultural and economic relations among some groups of artisanal fishermen do not take work and free time as antagonistic entities. Conversely, such relationships celebrate similarities between fishing skills, leisure and life, which configure a societal whole. Artisanal fishermen from mar-de-fora in the beach of Suape, district of Cabo de Santo Agostinho, southern coast of Pernambuco, distant 50 km from Recife. This article seeks to reveal the work and free time ethic entailed in the daily tasks of fishermen in this beach, based on ethnographic research and life history of 13 fishermen. It was observed a work ethic that is confused with the morality of free time, since a restriction on one of them implies limits to the other. Therefore, for these men, being defined as free man or as captive is referred to the inseparable connection, in both practical and symbolic terms, between these two moralities, what is essential for fully qualifying as an artisan fisherman based on the dispensable character of work.